segunda-feira, 31 de maio de 2010

Mário Quintana

EU QUERIA TRAZER-TE UNS VERSOS MUITO LINDOS

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas
do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia...
como uma pobre lanterna que incendiou!

(Quintana de Bolso)

Mário Quintana
 
Mário de Miranda Quintana nasceu em Alegrete no dia 30 de julho de 1906 e faleceu em Porto Alegre, em 5 de maio de 1994. Foi poeta, tradutor e jornalista brasileiro, considerado o "poeta das coisas simples", com um estilo marcado pela ironia, pela profundidade e pela perfeição técnica, ele trabalhou como jornalista quase toda a sua vida. Traduziu mais de cento e trinta obras da literatura universal.
 
Fonte - Poesia: http://www.fabiorocha.com.br/mario.htm
Fonte - dados Biográficos: http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_Quintana

domingo, 30 de maio de 2010

Nelson Rodrigues

FLOR DE OBSESSÃO

- Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico.

- A perfeita solidão há de ter pelo menos a presença numerosa de um amigo real.

- Amar é ser fiel a quem nos trai.

- A burrice é a pior forma de loucura.

- Toda coerência é, no mínimo, suspeita.

- Todo óbvio é ululante.

Frases selecionadas e organizadas por Ruy Castro, extraídas do livro "Flor de Obsessão", Cia. das Letras - São Paulo, 1997, págs. diversas

Nelson Rodrigues

Nelson Rodrigues nasceu em Recife em 1912 e faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 1980. Autor. Ao longo de sua trajetória artística, Nelson Rodrigues foi alvo de uma polêmica que o faz conhecer tanto o sucesso absoluto, como em Vestido de Noiva, 1943, cuja encenação por Ziembinski marca o surgimento do teatro moderno no Brasil, quanto a total execração, como em Anjo Negro, 1948, ousada montagem para a época pelo Teatro Popular de Arte. Distante de qualquer modismo, tendência ou movimento, cria um estilo - e quase um gênero - próprio e é hoje considerado o maior dramaturgo brasileiro.

Fonte - Frases: http://www.releituras.com/nelsonr_flor.asp 
Fonte - Dados Biográficos: http://www.releituras.com/nelsonr_flor.asp

domingo, 23 de maio de 2010

Pablo Neruda

GOSTO QUANDO TE CALAS

Gosto quando te calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.

Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.

Pablo Neruda

Pablo Neruda nasceu em Parral, Chile em 14 de julho de 1904, como Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto. Foi um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX. Recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1971. Morreu em Santiago em 23 de setembro de 1973.

Fonte - Poema: http://www.pensador.info/poema_isabela_de_pablo_neruda/
Fonte - Dados Biográficos: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pablo_Neruda

Oscar Wilde

LOUCOS E SANTOS

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde nasceu em Dublin na Irlanda em16 de outubro de 1854. Faleceu em Paris,  França no dia 30 de novembro de 1900.

Fonte - Poema: http://pt.wikiquote.org/wiki/Oscar_Wilde
Fonte - Dados Biográficos: http://pt.wikipedia.org/wiki/Oscar_Wilde

Vinícius de Morais

SONETO DE FIDELIDADE

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

Estoril - Portugal, 10.1939

in Poemas, sonetos e baladas
in Antologia Poética
in Livro de Sonetos
in Poesia completa e prosa: "O encontro do cotidiano"
in Poesia completa e prosa: "Cancioneiro"

Vinícius de Morais

Vinícius de Morais ou o Poetinha, título recebido, nasceu, em meio a forte temporal, na madrugada de 19 de outubro de 1913 na cidade do Rio de Janeiro e faleceu na manhão de 9 de julho de 1980, na mesma cidade. 

Fonte - Soneto e Dados Biográficos: http://www.viniciusdemoraes.com.br/

Cora Coralina

SABER VIVER

Não sei… Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira,
Pura… Enquanto dura

Cora Coralina
 
Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas Brandão, nasceu em Cidade de Goiás, em 20 de agosto de 1889 e falaceu em Goiânia, no dia 10 de abril de 1985. Foi poetisa e contista.
 
Fonte - Poema: http://www.cuidardeidosos.com.br/saber-viver-segundo-cora-coralina/
Fonte - Dados Biográficos: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cora_Coralina

Cecília Meireles

MOTIVO

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Cecília Meireles

Poetisa, professora, pedagoga e jornalista. Nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 07/11/1901 e  faleceu na mesma cidade em 09/11/64. Teve importante posição na literatura brasileira do século XX.

Fonte - Poesia e Dados Biográficos: http://www.fabiorocha.com.br/cecilia.htm

domingo, 16 de maio de 2010

Alberto Caeiro

DESTE MODO OU DAQUELE MODO

Deste modo ou daquele modo,
Conforme calha ou não calha,
Podendo às vezes dizer o que penso,
E outras vezes dizendo-o mal e com misturas,
Vou escrevendo os meus versos sem querer,
Como se escrever não fosse uma cousa feita de gestos,
Como se escrever fosse uma cousa que me acontecesse
Como dar-me o sol de fora.

Procuro dizer o que sinto
Sem pensar em que o sinto.
Procuro encostar as palavras à ideia
E não precisar dum corredor
Do pensamento para as palavras.
Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir.
O meu pensamento só muito devagar atravessa o rio a nado
Porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar.

Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro,
Mas um animal humano que a Natureza produziu.

E assim escrevo, querendo sentir a Natureza, nem sequer
como um homem,
Mas como quem sente a Natureza, e mais nada.
E assim escrevo, ora bem, ora mal,
Ora acertando com o que quero dizer, ora errando,
Caindo aqui, levantando-me acolá,
Mas indo sempre no meu caminho como um cego teimoso.

Ainda assim, sou alguém.
Sou o Descobridor da Natureza.
Sou o Argonauta das sensações verdadeiras.
Trago ao Universo um novo Universo
Porque trago ao Universo ele-próprio.

Isto sinto e isto escrevo
Perfeitamente sabedor e sem que não veja
Que são cinco horas do amanhecer
E que o sol, que ainda não mostrou a cabeça
Por cima do muro do horizonte,
Ainda assim já se lhe vêem as pontas dos dedos
Agarrando o cimo do muro
Do horizonte cheio de montes baixos.

Alberto Caeiro / Fernando Pessoa

Alberto Caeiro é um dos três principais heterônimo de Fernando Pessoa.
Nasceu em Lisboa, 1885 e faleceu em 1915. Viveu maior parte da sua vida numa Quinta do Ribatejo. Não exercia qualquer profissão, o que faz com que fosse pouco instruído. É o “mestre” dos outros heterônimos, até do próprio Fernando Pessoa. Caeiro tinha uma visão instintiva e ingénua da natureza, procurando assim viver a exterioridade das sensações e recusando a metafísica.

Fonte - Poema: http://www.fpessoa.com.ar/poesias.asp?Poesia=237
Fonte - Dados biográficos: http://www.slideshare.net/guest40b640/fernando-pessoa-e-seus-heternimos

sábado, 15 de maio de 2010

Fernando Pessoa

NAVEGAR É PRECISO

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
Quero para mim o espírito desta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e (a minha alma) a
lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

Fernando Pessoa

Fernando António Nogueira Pessoa foi um grande poeta, ficcionista, dramaturgo, filósofo, prosador português que viveu entre os séculos XIX e XX. Nasceu a 13 de Junho, numa casa do Largo de São Carlos, em Lisboa.
Através dos seus heterónimos, Pessoa ortónimo questiona o conceito metafísico da tradição romântica da unidade do sujeito e da sinceridade da expressão da sua emotividade, através da linguagem. Em cada heterónimo, Fernando Pessoa dá a conhecer várias emoções e perspectivas sobre os sentimentos, emoções e desejos, e é a espécie da representação irónica da sua inteligência.
Concebidos como individualidades distintas do autor, este criou-lhes uma biografia e até um horóscopo próprio. Em 1914 surge o aparecimento dos seus três principais heterónimos, eles são Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos

Fonte - Poema/Nota: http://www.revista.agulha.nom.br/fpesso05.html
Fonte - Dados Biográficos: http://www.slideshare.net/guest40b640/fernando-pessoa-e-seus-heternimos

Nota: "Navigare necesse; vivere non est necesse" - latim, frase de Pompeu, general romano, 106-48 aC., dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, cf. Plutarco, in Vida de Pompeu.

Clarice Lispector

ÁGUA VIVA

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada."

"Há muita coisa a dizer que não sei como dizer. Faltam as palavras. Mas recuso-me a inventar novas: as que existem já devem dizer o que se consegue dizer e o que é proibido. E o que é proibido eu adivinho. Se houver força. Atrás do pensamento não há palavras: é-se. Minha pintura não tem palavras: fica atrás do pensamento. Nesse terreno do é-se sou puro êxtase cristalino. È-se. Sou-me. Tu te és."

Clarice Lispector

Trechos de Água Viva, Editora Rocco, 2008. p. 20 e p.27

Clarice Lispector nasceu em Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro de 1920, tendo recebido o nome de Haia Lispector. Seu nascimento ocorreu durante a viagem de emigração da família em direção à América. Faleceu no dia 09 de dezembro de 1977 na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.

Fonte - Texto: http://pt.wikiquote.org/wiki/Clarice_Lispector
Fonte - Dados Biográficos: http://www.releituras.com/clispector_bio.asp

Victor Hugo

DESEJO

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
Eque pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono dequem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar esofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

Poema atribuido ao escritor e poeta francês Victor-Marie Hugo. Nasceu em Besançon, no dia 26 de fevereiro de 1802 e faleceu em Paris, em 22 de maio de 1885. É autor de Les Misérables e de Notre-Dame de Paris, entre diversas outras obras.

Fonte - Poema: http://www.astormentas.com/victorhugo.htm
Fonte - Dados Biográficos: http://pt.wikipedia.org/wiki/Victor_Hugo

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Oswaldo Montenegro

METADE

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

Oswaldo Montenegro

Oswaldo Viveiros Montenegro nasceu em 15 de março de 1956, no Grajaú, Rio de Janeiro. É músico, compositor, interprete, escritor, apresentador, um artista!

Fonte - Música Poema: http://letras.terra.com.br/oswaldo-montenegro/72954/
Fonte - Dados Biográficos: http://www.oswaldomontenegro.com.br/historia/bio.html