terça-feira, 1 de junho de 2010

Rachel de Queiroz

A VELHA AMIGA

Conversávamos sobre saudade. E de repente me apercebi de que não tenho saudade de nada. Isso independente de qualquer recordação de felicidade ou de tristeza, de tempo mais feliz, menos feliz. Saudade de nada. Nem da infância querida, nem sequer das borboletas azuis, Casimiro.
Nem mesmo de quem morreu. De quem morreu sinto é falta, o prejuízo da perda, a ausência. A vontade da presença, mas não no passado, e sim presença atual.
Saudade será isso? Queria tê-los aqui, agora. Voltar atrás? Acho que não, nem com eles.
A vida é uma coisa que tem de passar, uma obrigação de que é preciso dar conta. Uma dívida que se vai pagando todos os meses, todos os dias. Parece loucura lamentar o tempo em que se devia muito mais.
Queria ter palavras boas, eficientes, para explicar como é isso de não ter saudades; fazer sentir que estou expirimindo um sentimento real, a humilde, a nua verdade. Você insinua a suspeita de que talvez seja isso uma atitude...

(Crônica publicada no jornal "O Estado de São Paulo" - 13/01/2001)

Rachel de Queiroz

Rachel de Queiroz foi romancista e cronista brasileira. Nasceu em Fortaleza, Ceará, e residiu na cidade do Rio de Janeiro. No início da década de 1970, a Academia Brasileira de Letras modificou seus estatutos para receber Rachel de Queiroz, primeira acadêmica mulher do Brasil. Faleceu em 04 de novembro de 2003.

Fonte - Trecho da Crônica e Dados Biográficos: http://www.vidaempoesia.com.br/racheldequeiroz.htm

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